Em tempos de busca crescente por resultados exponenciais dentro das empresas e de valorização do trabalho com times cada vez mais diversos (idade, gênero, raça, cor, etc.), incluindo profissionais com repertórios, culturas e interesses distintos, a necessidade de engajar os colaboradores é fundamental. Afinal, são eles que entregam os resultados. É nesse cenário que o tema felicidade tem ganhado relevância cada vez maior no ambiente de trabalho e se tornado fórum para as discussões em comitês estratégicos, uma vez que afeta diretamente o clima organizacional e a entrega de resultados pela corporação.

Fatores como bem-estar e qualidade de vida são tão requisitados no mercado quanto benefícios, remuneração compatível e desafios na carreira. Diante disso, a área de Recursos Humanos e as lideranças buscam, permanentemente, se aprofundar no assunto e abrir caminhos para assegurar ambientes propícios a essa tão falada satisfação. É fundamental compreender que o tema felicidade deve ser pauta dos conselhos de administração e estratégia das empresas, porque vai além do bem-estar psicológico dos colaboradores.

A felicidade no trabalho não se resume apenas a um conceito ou viés. Essa temática abrange diferentes facetas que, não necessariamente, estão certas ou erradas. Se você não está feliz onde trabalha, no mínimo, seu dia será aterrorizante. Afinal, permanecer em um ambiente por ao menos oito horas diárias, que não ofereça qualquer prazer, pode se tornar bastante complexo. É possível, sim, ter entusiasmo e alegria no que se faz, mas é preciso entender que felicidade não é trabalhar pouco.

O conceito pode assumir diferentes significados para cada pessoa. Para uns, é fazer o que se gosta. Para outros, é trabalhar com líderes inspiradores ou receber um bom salário, por exemplo. Com um olhar estratégico e humanizado, é papel do líder enxergar para além do profissional, com uma visão mais ampla da vida de cada um de seus liderados: compreendendo quem eles realmente são e seus gostos. E, a partir daí, viabilizar ações para que eles se sintam mais confortáveis nos diversos ambientes organizacionais, motivados a superar desafios e solucionar problemas, desenvolvendo a maturidade emocional e profissional, além da busca diária pelo crescimento humano.

Infelizmente, não é pequena a lista de pessoas trabalhando em empresas que não admiram, estão casadas com cônjuges em quem não confiam, namoram sem amar ou fazem algo sem querer. A mescla nos forma, mas daí a fazer muitas coisas sem desejo, simplesmente porque temos de fazer, torna a vida menos leve e abre brechas para adoecermos mentalmente. E não é por acaso que o Brasil desponta como um dos países com maiores índices de burnout – estafa mental, além da alta incidência de casos de ansiedade.

Tal Ben-Shahar, conhecido como o guru da felicidade e criador do curso mais popular da história da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, diz que “equipes com emoções positivas e bem-estar psicológico garantem os resultados até seis vezes mais”. De acordo com o Instituto Gallup, colaboradores engajados e com alto nível de satisfação, ao longo de um ano, perdem 70% menos dias trabalhados e são mais propensos a não faltar por problemas de saúde. Além disso, são 45% mais predispostos a exibir um alto nível de adaptação a mudanças, algo fundamental e cada vez mais requerido pelas empresas.

É importante salientar que a felicidade não é um item de responsabilidade apenas da empresa, afinal, cada pessoa deve protagonizar a busca do autoconhecimento e identificar as principais competências e habilidades individualmente, bem como ter consciência daquilo que faz os olhos de cada um brilhar. Sem esse processo, como saber se onde você trabalha atualmente é realmente um ambiente melhor do que foi ontem? E terceirizar essa ação para as empresas sugere imaturidade emocional, afinal, ninguém melhor do que você para tomar decisões e fazer as escolhas necessárias.

Cabe lembrar que a vida é feita de ciclos. O mesmo acontece com as empresas. O dia a dia dentro das companhias envolve tanto momentos maravilhosos quanto períodos desafiadores ou pontuados por alguns dissabores. Mas, quando você tem clareza do seu propósito e qual o impacto que o seu trabalho gera na sociedade, tudo tende a ter mais leveza. Somos seres integrais e precisamos equilibrar as demais esferas da vida, lembrando sempre que ela é muito além do que apenas trabalhar e pagar contas. E vamos combinar: se a vida está cada vez mais acelerada e ao mesmo tempo mais curta, é inaceitável passarmos por ela sem sermos felizes e fazermos outras pessoas felizes; não é verdade?

David Braga é CEO, board advisor e headhunter da Prime Talent, empresa de busca e seleção de executivos, presente em 30 países pela Agilium Group; é conselheiro de Administração e professor convidado pela Fundação Dom Cabral; além de conselheiro da ABRH MG, ACMinas e ChildFund Brasil. Instagrams: @davidbraga | @prime.talent

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